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O conceito desse projeto foi tirado a partir da leitura do texto “As Babas do Diabo”, que retrata as diferentes interpretações e visões de mundo, a partir do repertório pessoal de cada um. O choque entre a realidade e a imaginção é algo que fica bastante evidente na exposição “Fernando Pessoa, plural como o universo”, uma vez que as obras como poemas impressos e projetos, documentos e imagens de Pessoa, e quadros de pintores portugueses, escontram-se dispostos de tal maneira, que leva cada um ter sua experiência própria, como se fosse um labirinto.

A partir disso, foram criados os anúncios abaixo:

A partir da leitura do texto “As Babas do Diabo”, foi realizado um resumo e uma estilização da obra.  O tema central do conto de Julio Cortazár é o choque entre a realidade e a imaginção. Ou seja, o envolvimento do leitor no meio da junção do real e do imaginário, na busca pela verdade relativa ao acontecimento.

Após extrairmos o tema central do conto de Cortazár, fizemos uma releitura do mesmo. Uma adaptação utilizando a linguagem verbal e não-verbal. Primeiramente criamos uma pequena história utilizando a linguagem verbal como uma espécie de roteiro, que segue abaixo:

As aventuras de Juan Buena Vista

É engraçado como uma fração de segundo pode mudar tudo. Uma coisa que aparenta ser totalmente insignificante pode transformar vidas.  Se naquele momento Nicolas não tivesse tido a idéia de brincar de esconde-esconde, e se naquele momento eu não tivesse entrado na floresta, minha vida não seria a mesma.  Poderia começar a contar esta história por qualquer parte, mas sem dúvidas a melhor maneira é pela tarde do dia vinte e dois de março de 1934, ainda começo do outono.

Eu, Juan Buena Vista, tinha exatamente onze anos e nove meses. Após a escola, voltei para casa para almoçar e durante a refeição ela me disse que apesar das minhas notas, poderia sair para brincar caso arrumasse meu quarto, que dividia com meu irmão mais novo.

A bagunça, me lembro bem, era toda dele. Havia roupas e brinquedos por toda a parte, mas o fato de estar indo mal no colégio era o caso de um castigo bem pior. Arrumei tudo em uma hora, e logo sai para me divertir com o meu melhor amigo Nicolas.

Quando já estava distante do meu jardim, minha mãe me alertou pela janela que não deveria chegar em casa tarde. Meu pai era muito mais rígido do que ela, e se ele chegasse para o jantar e eu não estivesse lá, estaria encrencado.

Nicolas sugeriu que brincássemos de esconde-esconde, como já mencionei. Era nossa atividade favorita. Como de costume, eu queria ser o primeiro a me esconder, e ele concordou com isso.  Sempre achava um esconderijo diferente na cidade: no beco do mercadinho, atrás da farmácia, em cima da árvore da praça central.

Dessa vez, decidi entrar na floresta. Meus pais sempre me alertaram que a floresta era um lugar perigoso, e portanto, nunca deveria entrar lá sozinho. Mas me achava grande o suficiente, em três meses dali teria doze anos, além disso eu estava no primeiro ano, e no dia anterior Nico tinha se escondido lá, então era difícil que me procurasse.

Sentei perto do riacho, entre as árvores. Não estava exatamente escondido, mas estava certo que meu amigo não iria me procurar ali.  O tempo que fiquei naquela posição, eu não sei, mas pareceu uma eternidade.  De repente, escutei uns barulhos de galhos quebrados e vozes do outro lado do rio. Achei que era Nico.

Fiquei observando as árvores, mas de lá saíram dois homens que nunca tinha visto na cidade. E isso é um fato muito estranho porque a cidade é pequena e todos se conhecem. Eles traziam um carrinho vermelho, parecido com o que toda criança pede de natal aos sete anos.

No carrinho havia um enorme saco plástico preto. Parecia que havia um animal muito grande dentro dele. Não conseguia ouvir a conversa deles. Ambos tinham barbas e suas feições eram de preocupação e medo. O que significava aquilo? O que tinha dentro do saco?

Eles conversaram por um bom tempo, e eu fiquei ali imaginando o gato gordo de uma senhora qualquer que morreu e eles estavam ali para jogá-lo no riacho. Mas o saco então se mexia. O gato estaria vivo? Parei por um instante, e percebi que não era o gato da senhora, era sim o cachorro vira-lata que todos alimentavam na praça central. O dono da mercearia deveria ter mandado aqueles homens matá-lo.  Mas o saco ainda era muito grande, e ainda era muito pequeno para o cachorro, com certeza era um corpo humano. Meu corpo ficou frio. Seria aquilo um assassinato em plena luz do dia? Eu não iria fazer nada?

Naquele turbilhão, os homens jogaram o saco no rio. E a única coisa que consegui ouvir foi “esse foi o melhor fim que a gente poderia dar”. Alguém estava para morrer. Mas dessa vez, achei que o saco não estava mais se movendo. Resolvi chegar mais perto do rio e tirar o saco de lá.

Agora volto a falar da importância da fração de segundo. Da mesma maneira que a idéia de brincar de esconde-esconde surgiu, Nicolas surgiu no meio da floresta. Ele mencionou algo como eu estar em um lugar fácil, apesar de ter demorado para me achar, e que tínhamos que voltar para casa.

Tive que concordar com ele. E se no saco plástico tivesse mesmo um corpo? Mesmo que ele achasse que eu não teria feito tal atrocidade, com certeza o resto da cidade iria. Continuei caminhando de volta para casa, e nunca contei esta história que perturba para ninguém.

Será que deixei de salvar uma vida? Sou uma pessoa má por isso?

A partir desse texto, criamos uma história em quadrinhos, com poucas falas para deixar o leitor interpretar os acontecimentos de Juan Buena Vista independente das sugestões do texto acima.

BIOGRAFIA

 

Julio Cortázar é um escritor argentino que nasceu na embaixada argentina da Bélgica, no dia 26 de agosto de 1914. Porém, ele passou a maior parte de sua infância na Argentina e desde então mostrava interesse pela literatura.

Cortázar se formou em letras no ano de 1935, na “Escuela Normal de Profesores Mariano Acosta”. Em 1938, publicou seu primeiro livro de poemas chamado “Presencia”, sob o pseudônimo de “Julio Denis. Chegou a lecionar na “Facultad de Filosofia y Letras de la Universidad Nacional de Cuyo”, mas renunciou quando Perón assumiu a presidência.

Realizou alguns trabalhos de tradução, ao empregar-se na Câmara do Livro, em Buenos Aires, mas por discordar da ditadura, mudou-se para Paris, em 1951.

Lá, estudou por dez meses devido a uma bolsa do governo francês, porém acabou mudando-se definitivamente para o continente europeu. Em Paris, trabalhou como tradutor da UNESCO por muitos anos, e casou-se em 1953, com Aurora Bernárdez, uma tradutora argentina.

Traduziu para a Universidad de Puerto Rico uma obra completa em prosa de Edgar Allan Poe. Foi considerado por críticos a melhor tradução da obra do escritor. 

Em 1963, enviado pela Casa de las Americas, foi para Cuba para ser jurado de um concurso. Nesta época seu fascínio pela política se intensificou. E neste mesmo ano, teve um livro traduzido para o inglês.

         Lançou “Historias de Cronopios y Fama”, em 1962 e no ano seguinte, lançou seu grande sucesso “Rayuela”. Em 1959 saiu o volume de “Final del Juego”. Seu artigo “Para Llegar a Lezama Lima” foi publicado pela revista “Union”, em Havana.

            Depois desses anos, Cortázar se comprometeu politicamente  na libertação da América Latina sob regimes ditatoriais. Viajou ao Chile, em 1970, para se solidarizar com o governo de Salvador Allende. Foi ”ex-comungado”  por Fidel Castro,  por ter pedido informações sobre o desaparecimento do poeta Heberto Padilla, em 1971.

            Em 1973, recebeu o Prêmio Médicis por seu “Libro de Manuel”. Nele, seus direitos foram destinados à ajuda dos presos políticos na Argentina.

            Um ano depois, foi membro do Tribunal Bertrand Russell II, reunido em Roma para examinar a situação política na América Latina, em particular as violações dos Direitos Humanos.

Carol Dunlop, sua última esposa, faleceu em 1982, e Cortázar entrou em uma profunda depressão.

Em 1983 volta a Argentina democrática pela última vez.  Foi muito bem recebido por seus admiradores, mas as autoridade nacionais foram indiferentes.  De volta a Paris, foi outorgada a nacionalidade francesa.

            Júlio Cortázar morreu de leucemia em 1984, e foi enterrado no cemitério de Montparnasse, junto a Carol.  Em sua tumba foi erguida a imagem de um “cronópio”, personagem criado pelo autor. E em Buenos Aires, uma praça que fica entre as ruas Serrano e Honduras, passou a levar seu nome. Mas só em 2007 foi dado oficialmente o nome de “Plaza Julio Cortazar” à pequena praça no extremo ocidental da “Île Saint Louis”, onde se passa conto “Las Babas del Diablo”. View full article »

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